segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PIRATA






DEPOIS DE MUITOS SAQUES
TANTOS DESEMBARQUES
ELE DEIXA O MAR

ADENTRA À UMA MATA LENTA
QUE NUMA TORMENTA
FAZ-SE ILUMINAR (SE FAZ A TODA LUZ)

ALADO NESTE SOM DE SAX
PURO DEVANEIO DE UM AMANHECER
VISLUMBRA AQUELA FLOR DA TERRA
QUE COMO QUIMERA PERMEIA TODO O AR

A VISTA, SÃO DOIS OLHOS D'ÁGUA
QUE NÃO SÃO FANTASMAS
APESAR DAS ASAS E DOS CHEIROS SEUS

E SE DÁ ENTÃO O ENCONTRO
QUE É DE FICAR TONTO
ENTRE A TERRA E O MAR

FLAMEJA UM RAIO DIURNO
LÁ DO FIM DO MUNDO PARA ESTES DOIS
QUE VÃO ROLANDO PELA RELVA FRESCA
UNTANDO AS CABEÇAS A UM DESMAIO SÓ

(TALVEZ O CORPO JÁ NÃO MAIS EXISTA
E SOMENTE SE ATIÇA POR UM ESPREGUIÇAR)

ADEUS A VIDA DO MAR GRANDE
DAS CIDADES  DANTES, O VÉU ESCARLATE
(SÓ)SO(M)BRANDO DE UM ALENTO, UM GRITO
UM GEMIDO TIDO COMO UM SOM DE SAX  PARIDO DE PRAZER.
(Zé Waldir em 21.12.1988)




SOBRE SONHOS E FANTASMAS

 

Como posso te contradizer ou criticar
pedaço vivo do meu ser
quando me falas sobre os fantasmas
que te povoam os sonhos?
Nos meus eles também são visitantes habituais
mandando-me recados
ora claros como um límpido regato,
ora obscuros como um pântano lamacento.
Eles nada mais são
do que um recado
das profundezas do nosso ser
retratando as carências infinitas e insaciáveis,
que não temos coragem ou tempo para expressar.
Sonhos.... ah! Os sonhos!
Se tivessem um manual de instrução.
Como não tem,
é melhor que os ignoremos.... para o nosso próprio bem.
(05/02/09)

OLHAR

Olhares Felinos



A vida, por vezes, se apresenta como uma caminhada vã
e sem encanto...
exceto....
quando um olhar qualquer ascende no caminho
um rastilho de fogo inesperado.
Em que pese toda dor que se há de sentir
sem tesão não há como prosseguir

(24/10/08)

sábado, 13 de novembro de 2010



ULTIMA POESIA

O mundo hoje irá dormir mais triste
minhas lembranças também.
Para o meu único confidente,
contarei histórias vividas e 
chorarei lágrimas de uma saudade gostosa.
Relembrarei momentos ímpares
que partilhei com este ser
que hoje deixa nossa companhia
e passa a fazer parte do imaginário
dos lagunenses ilustres.
Alguém que foi capaz de marcar férias em Janeiro
e vir do Espírito Santo a Santa Catarina
para ensinar física
a uma sobrinha muito avoada que iria prestar vestibular.
Mas também pôde assistir desenhos ao lado dela
e emocionar-se às lágrimas com a história contada.
Sair mostrando sua primeira poesia
(que ela lhe mandara de presente de Natal)
a todos os colegas de trabalho.
E falar tanto sobre ela,
com todos os outros poetas seus amigos,
que quando ela foi visitá-lo em sua cidade,
todos a trataram como uma velha amiga.
Hoje,
morre com ele mais um pedaço de mim.
A partir de hoje
o mundo fica bem menos interessante
pois ele não estará mais visível para nos contar suas lembranças
que estava tão preocupado em transmitir
para que esta parte da memória de Laguna
não se perdesse para sempre no tempo.
Não acontecerão mais os papos incríveis,
as conclusões brilhantes e ao mesmo tempo estranhas.
Conclusões que só poderiam partir
de alguém tão a frente do seu tempo como ele foi.
O mundo hoje está mais triste
mas no céu, com certeza
deve haver muita alegria com a sua volta.
Boa viagem querido tio!
Boa viagem
maluco beleza!

Palhoça, 10/12/2008