terça-feira, 22 de janeiro de 2013


ENTÃO É NATAL

         Um pouco mais distante do cotidiano do meu ofício de dona de casa, inclino-me com prazer aos preparativos natalinos e  fatalmente, isto me remete aos natais de minha infância.
         Dentre todos, aquele que mais aviva minha recordação com carinho especial, acredito seja o natal de 1966, quando tinha 6 para 7 anos.
         Época em que a contragosto, mais que natural do meu pai, eu ainda dormia no quarto deles. Aliás, por força do pânico de ficar sozinha, obrigatoriamente eu “tinha que ter alguém ao meu lado” para poder dormir.
         Creio que houve “uma certa exigência” do meu pai, para que eu, pelo menos, dormisse na sala, preservando a intimidade do casal.
         E foi numa destas noites, que dormia na sala,  eu acordei com uma imagem maravilhosa e desta sensação de surpresa, alegria e contentamento eu nunca mais me esqueci!
         A árvore de natal estava montada bem defronte ao sofá onde, naquele ano, eu dormia. Abrindo os meus olhinhos, de seis anos de idade, aos meus pés, ela piscava lindamente e no chão  ao seu lado, estava uma boneca “grande demais, maior que todas as outras”, quase do tamanho da árvore. Vestida lindamente de azul, sapatos brancos, meia curtinha, cabelos curtos e louros, os olhos eram de uma cor que eu nunca tinha visto em boneca alguma: azuis
         Jacqueline era seu nome, anotado em azul e impresso na caixa de fundo bege. Eu fiquei encantada, eis que a minha frente, na minha casa, o meu presente era aquela boneca que  eu havia me derretido toda, ao vê-la dias antes junto com sua irmã morena, na vitrine iluminada das Lojas Hoepke, no centro de Laguna. É verdade, que ao vê-las nada comentei com minha mãe, não era coisa que se pedisse ao Papai Noel!
         Ao lado da boneca também estava um jogo de loucinhas, formado de bule, xícaras e chaleira vermelhos e de pratinhos, pires e talheres brancos.
         Aquela cena que vi ao abrir os olhos, a árvore piscando, a boneca de pé, com os braços erguidos, como que esperando o meu abraço, as loucinhas, enfim, resta gravado em meu coração para sempre. Foi um momento inesquecível. A sensação em meu peito era insuportavelmente feliz! E o fato de ganhar algo que somente possível em sonhos,  demonstrava que coisas boas poderiam acontecer, que a vida não se resumia a tristeza em que vivíamos.
         Ao relembrar o natal de 1966, vieram a tona lembranças do natal  de 1969. O decorrer deste ano, para mim, foi cheio de angústias. Dois dos meus irmãos mais queridos, em razão de trabalho, afastaram-se do meu convívio. O meu irmão do meio, Rogério, foi servir o exercito, em Brasília e, minha irmã  Odete, professora, passara no concurso de ingresso e fora dar aulas em Itapoá, município situado na fronteira de Santa Catarina com o estado do Paraná (para mim, era como se fosse outro país,  algo tão longe que eu não conseguia imaginar).
         Como se não bastasse a saudade de minha irmã, para ofensa e indignação dos meus pais, ela escrevera “somente para nossa Tia Marta” uma carta, relatando as dificuldades que estava passando na dita cidade. Acompanhando sem muito ou quase nada poder fazer, frente a indignação dos meus pais pelo fato de somente através de terceiros ter conhecimento da real situação da minha irmã e sobre o conteúdo da própria notícia, mergulhei numa tremenda angústia, que se prolongou durante todo aquele ano,  a  imaginá-la sozinha, passando por tudo aquilo, num lugar “tão,tão distante”!!
         Por isto mesmo, quando o final do ano chegou, trazendo os meus irmãos de volta, “sãos e salvos” e, aos meus olhos, “inteiros”, a minha alegria fora imensa.
         E é bem assim que eu estou, numa foto, rodeada por eles,  no galpão do Porto,  onde meu pai trabalhava e onde também, todos os anos, organizava-se um presépio muito bonito, para a confraternização  dos funcionários e seus familiares!
         Aquele era um presépio, aos meus olhos, gigantesco, pois o local era enorme e todo cenário era feito de uma espécie de papelão amassado, imitando as pedras, os morros, onde havia espelhos imitando lagos, com água corrente feito um riacho, a areia das dunas do mar grosso, formava o deserto, relva colhida, imitava a vegetação rasteira.
         O cenário todo não se limitava ao nascimento do menino Jesus. Contava todos os acontecimentos, iniciando pela  anunciação, a visita de Maria à sua prima Isabel e a  peregrinação dos Reis Magos, os pastores no campo com  a Estrela de Belém, para culminar no presépio em si, o menino Jesus na manjedoura, ao lado de sua Sagrada família, representados pela imagens de cerâmica.
         Neste natal a festa foi especial. Os brinquedos que ganhamos foram bem melhores que os dos anos anteriores e, nesta foto, eu estou prá lá de feliz com uma boneca Suzi em meus braços!!! Eu bem sabia que a moda de ter uma Suzi já havia passado.... mas não me importei nem um pouco. Ganhar uma Suzi era algo que também nem sonhava em pedir e o melhor de tudo foi que com esta Suzi eu pude brincar a vontade. Ela não estragou, não ficou velhinha nem feia e, quando saí de casa, já adulta, dei-a como presente para minha sobrinha mais nova.