ENTÃO É
NATAL
Um
pouco mais distante do cotidiano do meu ofício de dona de casa, inclino-me com
prazer aos preparativos natalinos e
fatalmente, isto me remete aos natais de minha infância.
Dentre
todos, aquele que mais aviva minha recordação com carinho especial, acredito seja
o natal de 1966, quando tinha 6 para 7 anos.
Época
em que a contragosto, mais que natural do meu pai, eu ainda dormia no quarto
deles. Aliás, por força do pânico de ficar sozinha, obrigatoriamente eu “tinha
que ter alguém ao meu lado” para poder dormir.
Creio
que houve “uma certa exigência” do meu pai, para que eu, pelo menos, dormisse
na sala, preservando a intimidade do casal.
E
foi numa destas noites, que dormia na sala,
eu acordei com uma imagem maravilhosa e desta sensação de surpresa,
alegria e contentamento eu nunca mais me esqueci!
A
árvore de natal estava montada bem defronte ao sofá onde, naquele ano, eu
dormia. Abrindo os meus olhinhos, de seis anos de idade, aos meus pés, ela piscava
lindamente e no chão ao seu lado, estava
uma boneca “grande demais, maior que todas as outras”, quase do tamanho da
árvore. Vestida lindamente de azul, sapatos brancos, meia curtinha, cabelos
curtos e louros, os olhos eram de uma cor que eu nunca tinha visto em boneca alguma:
azuis
Jacqueline
era seu nome, anotado em azul e impresso na caixa de fundo bege. Eu fiquei
encantada, eis que a minha frente, na minha casa, o meu presente era aquela
boneca que eu havia me derretido toda,
ao vê-la dias antes junto com sua irmã morena, na vitrine iluminada das Lojas
Hoepke, no centro de Laguna. É verdade, que ao vê-las nada comentei com minha
mãe, não era coisa que se pedisse ao Papai Noel!
Ao
lado da boneca também estava um jogo de loucinhas, formado de bule, xícaras e
chaleira vermelhos e de pratinhos, pires e talheres brancos.
Aquela
cena que vi ao abrir os olhos, a árvore piscando, a boneca de pé, com os braços
erguidos, como que esperando o meu abraço, as loucinhas, enfim, resta gravado
em meu coração para sempre. Foi um momento inesquecível. A sensação em meu
peito era insuportavelmente feliz! E o fato de ganhar algo que somente possível
em sonhos, demonstrava que coisas boas
poderiam acontecer, que a vida não se resumia a tristeza em que vivíamos.
Ao
relembrar o natal de 1966, vieram a tona lembranças do natal de 1969. O decorrer deste ano, para mim, foi cheio
de angústias. Dois dos meus irmãos mais queridos, em razão de trabalho, afastaram-se
do meu convívio. O meu irmão do meio, Rogério, foi servir o exercito, em
Brasília e, minha irmã Odete, professora,
passara no concurso de ingresso e fora dar aulas em Itapoá, município situado
na fronteira de Santa Catarina com o estado do Paraná (para mim, era como se
fosse outro país, algo tão longe que eu
não conseguia imaginar).
Como
se não bastasse a saudade de minha irmã, para ofensa e indignação dos meus
pais, ela escrevera “somente para nossa Tia Marta” uma carta, relatando as dificuldades
que estava passando na dita cidade. Acompanhando sem muito ou quase nada poder
fazer, frente a indignação dos meus pais pelo fato de somente através de
terceiros ter conhecimento da real situação da minha irmã e sobre o conteúdo da
própria notícia, mergulhei numa tremenda angústia, que se prolongou durante
todo aquele ano, a imaginá-la sozinha, passando por tudo aquilo,
num lugar “tão,tão distante”!!
Por
isto mesmo, quando o final do ano chegou, trazendo os meus irmãos de volta,
“sãos e salvos” e, aos meus olhos, “inteiros”, a minha alegria fora imensa.
E
é bem assim que eu estou, numa foto, rodeada por eles, no galpão do Porto, onde meu pai trabalhava e onde também, todos
os anos, organizava-se um presépio muito bonito, para a confraternização dos funcionários e seus familiares!
Aquele
era um presépio, aos meus olhos, gigantesco, pois o local era enorme e todo
cenário era feito de uma espécie de papelão amassado, imitando as pedras, os morros,
onde havia espelhos imitando lagos, com água corrente feito um riacho, a areia
das dunas do mar grosso, formava o deserto, relva colhida, imitava a vegetação
rasteira.
O
cenário todo não se limitava ao nascimento do menino Jesus. Contava todos os
acontecimentos, iniciando pela anunciação,
a visita de Maria à sua prima Isabel e a peregrinação dos Reis Magos, os pastores no
campo com a Estrela de Belém, para
culminar no presépio em si, o menino Jesus na manjedoura, ao lado de sua
Sagrada família, representados pela imagens de cerâmica.
Neste
natal a festa foi especial. Os brinquedos que ganhamos foram bem melhores que
os dos anos anteriores e, nesta foto, eu estou prá lá de feliz com uma boneca
Suzi em meus braços!!! Eu bem sabia que a moda de ter uma Suzi já havia
passado.... mas não me importei nem um pouco. Ganhar uma Suzi era algo que
também nem sonhava em pedir e o melhor de tudo foi que com esta Suzi eu pude
brincar a vontade. Ela não estragou, não ficou velhinha nem feia e, quando saí
de casa, já adulta, dei-a como presente para minha sobrinha mais nova.
Muito lindo! Como disse antes, fiquei muito emocionada e lembrei dos teus familiares. Engraçado como as fisionomias vinham na minha mente. Beijo
ResponderExcluirQue legal Zu! Obrigada! Bjão!
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