sexta-feira, 19 de julho de 2013

UMA ADVOGADA NA COZINHA

Acordo da soneca da tarde disposta a esperar o meu marido, que já foi padeiro, desenhista, policial, advogado e é a agora... um destemido BIKEMAN, chegar do seu passeio de 2 dias à vizinha cidade de IMBITUBA, com o seu prato preferido: uma sopa!!
Ao volante da merivinha, me dirijo ao Supermercado próximo para comprar os ingredientes. Quando entro em casa, verifico que o cacho de bananas está maduro demais. Que fazer?
-Uma cuca de banana! Claro!                                                                    
Enquanto a carne cozinhava, piquei as verduras e separei os ingredientes para a cuca. Qual receita? A do livro azul? Não vai rolar: cuidar da sopa, separar ingredientes e ainda olhar a receita? NEVER!
Não tem problema, vai aquela básica, que já sei de cabeça, faz tempo.
Uma  voz interior me adverte: esta receita nunca deu certo!!!
-Não faz mal, vai assim mesmo!!
Quando tinha separado os ingrediente e a sopa estava ainda em preparação, eis que o destinatário de surpresa chegou e estragou tudo. Beijos, abraços, aquele rolo que só ele sabe fazer....
Tomou um café, contou umas rápidas histórias, perguntou se queria ajuda e, ante a minha negativa, foi descansar! Voltei alegremente para a cuca.
1º- Separar gemas das claras. Bater as últimas em neve e depois, sem mexer, incorporar à massa já pronta.
2º- Separar  Gemas, margarina e açúcar, para serem  batidas na super batedeira vermelha que ele comprou na Polishop.
Ops.! Vamos voltar a sopa e colocar as verduras, a carne formou um molho delicioso... será que não deveria fazer um assado de panela? Não, Rita, concentração!!
Volto para a batedeira e coloco somente a margarina com o açúcar... bate, para, mistura manualmente, bate, para, mistura! Não tem jeito! 
-Afinal de contas, o que está acontecendo? Da outra vez o creme logo se formou!!!
Ah! Ligar o forno!
-Bom, vou experimentar colocar um pouco do leite!
Fica uma meleca!!!
-Ah! Danou-se! Vou colocar logo a farinha de trigo, misturada com a maisena e ver no que vai dar!!!
Antes dou uma conferida no caldo da sopa e baixo o fogo, porque sopa sem caldo não fica bem!
- Está lindo! Ok!
Já que esta massa vai  ficar de qualquer jeito mesmo, coloco as claras e baixo a temperatura do superforno do superfogão que “ele” também resolveu comprar para suas aventuras culinárias.
Na cozinha eu me sinto meio ET, às vezes! O pai, o filho e a filha cozinham que é uma beleza....
-Ah! Vá lá! Melhor prá mim, que prefiro almoçar fora!
-OPAAAA!!! O que é isto ao lado das claras?
-AS GEMAS!!!
Por isto o creme não ficou maravilhoso como da outra vez! Vejam só! Que pequeno detalhe eu havia esquecido.
Agora danou-se tudo mesmo! As claras não gostam de estar neve, não quiseram permanecer naquele estado e sobra um pouco de líquido quando viro a vasilha!!! -Agora vou bater esta massaroca (uma massa que não deu certo), tudo junto e seja lá o que Deus quiser!
Já irritada, eu coloco toda a farinha, de uma só vez... quando ligo a batedeira, levanta farinha para todos os lados da bancada, no chão, na geladeira.... aimeudeusdocéu, esqueci daquela partezinha que coloca em cima da tigela!!
Quando resolvo o desastre, lembro que não descasquei as bananas ainda, o forno já está prá lá de quente e que  sou uma idiota por não gostar de ajuda enquanto estou cozinhando!!!
Deixo a batedeira rebolando-se toda e vou fatiar as bananas, coloco no fundo da forma, já untada e enfarinhada (este foi o meu único ato lúcido nesta tarde de chuva e frio).
Desde pequena, aprendi que devemos enfrentar nossas mancadas de frente, serenamente.... lá fui eu, desligar a batedeira, colocar o fermento e partir para o: SEJA LÁ O QUE DEUS QUIZER!!!
Quando olho a massa ela está estranhamente sufflair... fofi’s, como costumo brincar! Viro a tigela... ela recusa-se a cair delicadamente, como todos os bolos e cucas normais, que as pessoas normais fazem!!! Empurrei tudo com uma espátula de nome estranho: pão duro! Ela não deixa NADA PARA SER LAMBIDO na tigela...as crianças já cresceram mesmo! Não tem mais problema....
-A FAROFAAAA!
Esqueci de fazer a farofa, gente do céu!! Olho para frente e sinto o calor do fogão, vejo a sopa  borbulhando, corro lá e desligo esta bendita panela!
Olho para o lado e vejo o pacote de trigo, a margarina quase no fim... pego uns punhados de farinha e vou mexendo dentro da cambuca  até fazer as bolinhas. Lembro que, obviamente, a farofa da cuca de banana é doce e coloco o restante do açúcar que tinha no pacote, porque o açucareiro já está vazio..
-.ai! O forno, está pelando, vou baixar mais, não tem jeito!
Consigo fazer a farofa com cara de farinha de margarina com açúcar! Coloco por cima da cuca, e enfio a danada no fogão, cujo calor quase queima as minhas sobrancelhas!!
Consumatum est enfim!
O tampo do fogão traz preciosas informações: bolos: tempo de cozimento, 40 a 45 minutos... 50 minutos e a cuca está “morena” nas bordas... no meio ela parece ferver!!
Não tem saída: vou acordar o cozinheiro e pedir socorro!!!
-Bota mais fogo nela!!!
Botei mais fogo! Enfiei a faca, em 3 minutos ela já estava assada no meio!
Retiro a cuca do forno e vamos todos tomar a deliciosa sopa, ouvindo as aventuras do nosso ciclista!
Antes de dormir, vou lá à cozinha conferir: corto uma fatia e.....
ALELEUIA, ALELUIA, ALELUIA!!!
Delicia, delicia, assim você me mata!!!!

A melhor cuca que eu já fiz!!!!

Um comentário:

  1. miha mestra da cozinha imortal acabas de comentar e demonstrar a teoria do caos no fazimento de sopas e cucas. eis que quando tudo parece sem sentido, tudo parece perdido, magnificamente como obra da mais sensível racionalidade sobrepostas e incorporadas em neve, em nuances emotivas, desabrocha sem surpresa do aparente caos a obra prima culinária de uma cuca fofi e de uma sopa caudalosa. que privilegio.

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