CARNAVAL EM LAGUNA
Laguna é a
cidade do já teve. Já teve porto, os melhores colégios, ferrovia, três cinemas
e teatro. Já foi até centro de referência em cultura no sul do Estado de Santa
Catarina.
No final dos
anos 60 e início da década de 70 já não tinha quase mais nada. Para a juventude
da época, não havia o que fazer, com o que se divertir, além de alguns bailes,
do cinema das 18:30 e 20:30 no domingo, a voltinha no jardim, o sorvete da
miscelânea e... casa!
Excluindo a
Festa de Santo Antônio, o ano inteiro era como já disse alguém: “a mais
completa solidão”! Por isto, as crianças, os jovens e os adultos esperavam
ansiosamente pelo verão e pelo Carnaval.
O carnaval
começava 15 dias antes, com o pré-carnaval, uma espécie de ensaio geral, onde
os blocos desfilavam “todas as noites”, exceto as segundas, nas ruas da parte
histórica da cidade. Era o Xavante, o Brinca quem pode, o Vila Isabel, e a querida
Bandinha Maluca e os Palhaços de Momo, que ia e voltava, com a criançada correndo atrás deles e deles
também!
Em geral, uma das
mães levava toda a pirralhada, elas tentavam nos manter sentados e comportados
no meio fio das calçadas, atrás das cordas que nos limitavam mas, no final da
noite, as cordas já estavam frouxas, de tanto que passávamos por baixo delas.
E junto com a
batucada, as correrias, tinha o vento, o calor, o sorvete da miscelânea, o
picolé de nata e de abacaxi, de butiá, de coco, que o nordeste derretia. Mas
aquela delícia não era para todo mundo: só para quem podia. Quem não podia
ficava lambendo os beiços, suportando
com galhardia o cheirinho da pipoca estalando, a barriga roncava loucamente,
mas, o que importava? Ninguém ligava para isto. Barriga roncava o ano todo e o Carnaval era curto demais para se ficar pensando
nisto e não correr atrás da bandinha, por aquelas ruas estreitas, os pés doendo
nos paralelepípedos, esbarrando nos locutores da Garibaldi e Difusora!
Na volta para
casa o cansaço era grande, mas era mais divertido ainda, todos comentando desta
ou daquela escola, as gargalhadas da Dona Maria, o nordeste na paixão, areia
batendo nos cambitos, mas isto ninguém sentia. Imagine só, onze horas, meia
noite e todos na rua. Nem pensar em outra ocasião para isto acontecer. Não! Só
o carnaval nos trazia esta liberdade de ficarmos longe do olhar vigilante dos
pais e, ainda por cima, até tarde da noite!
Mas, se por
algum acaso, alguma mãe caridosa não podia nos levar para ver a festa de momo, no
centro, em casa ninguém precisava ficar! No bairro do Magalhães ainda tínhamos
a opção dos ensaios do Xavantes e da escola de samba do seu Djalma, o
Aprendizes do Samba, na sua casa, que ficava bem em frente ao atual clube 3 de maio.
Lembro-me de um
ano, que as carochas invadiram prá valer, a rua ficava preta, mas nem o cheiro
medonho delas pisoteadas era suficiente para desestimular a nossa presença na
pracinha.
No ensaio daquelas
escolas, o samba corria frouxo. Enquanto isto, na pracinha, as crianças
brincavam de ré, de roda, esconde-esconde. Os mais afoitos e sapecas subiam na
árvore, ficavam pendurados de todas as maneiras.
Quando o calor
batia, tínhamos o picolé do seu Artur que era bem mais barato que o da
miscelânea e também era muito bom. Aliás, o que não era bom numa festa que era
esperada o ano inteiro? Tudo valia. Até picolé de gelo!
Tarde da noite,
quando chegávamos em casa, eram só joelhos ralados,mil broncas, ir dormir com
os ouvidos doendo e o couro quente das palmadas! Na cama, o que nos esperava
era um colchão cheio de grumos, o calor e os mosquitos.
Mas que nada!
Diante de tanto cansaço ninguém prestava atenção nisto, e o colchão cheio de
grumos parecia feito de penas!
06/2013
Que lindo, Rita! Enquanto lia, voltei no tempo. Fiquei emocionada. Aprendizes do Samba, com dona Nair, com suas mãos tortas pela artrose, pedindo "Ritmo crianças! Ritmo!". O verão das carochas. Achei que mais ninguém lembrava disso. Os estalos sob nossos pés... Obrigada por esses momentos, amiga querida.
ResponderExcluirQue bom Zuleida! Com estes comentários me fizestes lembrar da dona Nair.... que infância bonita nós tivemos não é mesmo? Abração e obrigada por comentar!
Excluirque legal, um passeio pela Laguna de ontem, abraços Rita
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