sexta-feira, 17 de junho de 2011

LIÇÃO DE VIDA


   Um dia, um anjo bêbado, que sempre vinha na minha casa acompanhado de seu violão, falou-me sobre o paradigma da reencarnação. Ele despejou tudo de uma vez só, violão no colo, e ficou meio sentado, meio já saindo, na poltrona vermelha da sala cor de rosa,como que esperando uma reação furiosa da minha parte, catequista que eu era, naqueles anos que agora estão distantes.
   Fiquei alguns segundos parada, olhando para ele, refletindo sobre o que me dissera, então respirei fundo e disse:
-É, tem lógica!
   Dando uma sonora gargalhada, ele relaxou na poltrona, me olhou com profunda admiração e falou a frase que não esqueço até hoje, por ser uma das mais verdadeiras que alguém já disse a meu respeito:
-Sabe Ritinha, tu  és a pessoa com mais religiosidade que conheço!
 Jamais esperei que tu respondestes isto, desta forma! Achei que ias correr comigo daqui!
   Este anjo, que já partiu do nosso convívio,  agora deve estar tocando harpa, em alguma nuvem, junto com o Santo Antônio!
   Foi pensando nesta frase, tão verdadeira, que começo aqui, o que espero, possa ser uma homenagem a uma pessoa que admirei e ainda admiro, por várias razões: a minha professora de Português, da 7ª série do CEAL, em 1974, dona Maria Serafina de Oliveira.
   Que senhorinha incrível! Minhas irmãs, meus primos, todos foram alunos dela, e fizeram  dela um bicho de sete cabeças, me enchendo de medos sobre o terror que eram as aulas dela. Mas não a vi deste jeito.
   Talvez, por já estar tão idosa quando me deu aula, ela era paciente e querida, jamais era ríspida, embora fosse autoritária e impusesse  respeito aos alunos. Não sei se os professores e professoras da nossa época foram beneficiados pelo ambiente social que a ditadura impunha. Mas, naqueles tempos, ninguém pensava em desobedecer o professor muito menos em afrontá-lo, desrespeitá-lo, nossos pais nos obrigavam a isto, a sociedade inteira não admitia ou esperava comportamento diferente de um adolescente. Não tinha conversa, pelo menos lá em casa: o professor sempre teria razão, então, o melhor mesmo era obedecer logo para evitar coisas piores!
   Creio que esta atmosfera lhes dava tranqüilidade para que as aulas fossem recheadas de histórias, que eles contavam para ilustrar a matéria. E ela contava muitas. Algumas ela repetia todos os dias, e nós apenas nos olhávamos, divertidos, com sono, sem vontade de aprender algo tão incompreensível como o português, mas nunca lhe faltávamos com o respeito.
   E foi contando histórias, narrando sua vida com  os filhos, suas viagens, dando lições de vida, sem que nos déssemos conta disto, que  um dia ela falou uma verdade. Depois de tudo o que já li e pesquisei sobre religiões e suas teorias, considero que esta é a única e verdadeira lei que rege a vida neste planeta:
- Podem ter certeza de uma coisa, na vida de vocês! Não existe nada mais certo do que isto, nem lei, nem religião alguma que o ser humano inventou, invente ou inventará!
   “A vida é como uma parede. E os nossos atos são como uma bola de borracha! Com quanto mais força vocês atirarem esta bola na parede, com força maior ainda ela voltará e vai bater bem no nariz de vocês!”
   Por este motivo, quando o anjo me falou sobre reencarnação, eu aceitei como algo lógico, porque em 1974, uma professorinha já havia me explicado, com muita simplicidade, sobre a responsabilidade dos nossos atos: 
Se eu jogar uma bola na parede é só esperar a volta!


4 comentários:

  1. Foi minha colega no ceal e eu, professor das filhas dela, algumas. Criatura doce e meiga, inteligência impar. Eu sempre conversava com jose Paulo arantes E como professor de biologia, não podia concordar com as idéias sobre reencarnação. Com Maria serafina nunca sobre esses assuntos. Se aprovares posso te mandar um texto que escrevi sobre ela há muitos anos

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  2. Lógico que gostaria! Mande logo! Abraços e bom fds.

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  3. Muito bom ver a gratidão endereçada aos mestres. Parabéns, Rita! Bjs da Fatima Barreto/Laguna/SC

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  4. Zuleida Martins Rosa4 de maio de 2014 às 18:31

    Lindo texto, Rita! Linda homenagem! Beijo.

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